- Matinha
Matinha é um município localizado a 237 km de São Luís, na região dos lagos da BAixada Maranhense. A região foi ocupada por grandes fazendas de açúcar e mandioca. Esses proprietários se fizeram acompanhar de um elevado número de escravos que contribuíram decisivamente para o desbravamento do território. Ao longo do tempo, diversas comunidades extrativistas e quilombolas se estabeleceram na região. É tradicional o festejo junino e o encontro dos grupos de Bumba meu Boi do sotaque de Pindaré (ou Baixada) na noite de 26 de junho, perdurando há mais de quarenta anos. O município destaca-se pela produção artesanal de caretas de Cazumbá ou Cazumba, como os brincantes se identificam.
Euzimar (Zimar)
Faz caretas há vinte anos e afirma que aprendeu tudo sozinho. É brincante do Boi Flor de Matinha, onde brinca como cazumbá ou “cazumba”.
Anteriormente suas caretas, também denominadas queixos, eram feitas de madeira, costumava usar jequitibá ou paparaúba como matéria-prima, porém, em decorrência de um AVC, essa extração e manipulação tornaram-se de difícil realização.
Hoje, utiliza capacetes de motos e panelas quebrados, encontrados em lixões, doados ou vendidos para moldar as caretas. Além desses materiais, também utiliza hélices de ventilador, escova de dente, garrafas pet; assim por meio destes últimos para criando as partes do rosto. Desta forma, suas peças se conformam de materiais reutilizados que respondem conforme a sua criatividade. Zimar conta que sua principal inspiração vem dos sonhos, enquanto dorme, e das figuras que percebe em manchas causadas pela umidade nas paredes de sua casa. Ressalta que uma careta precisa, acima de tudo, de ter uma aparência “muito feia” e monstruosa.
Nico
Vive em Viana, município vizinho. Faz caretas desde os doze anos, era brincante como cazumbá no Boi Urubu, de Viana. Atualmente, só produz caretas esculpidas em madeira, sob encomenda.
Artesãos que deixaram de produzir caretas: Côco Nascimento e Zé de Demétrio
Contato
(98) 98743-6461 (Zimar)
Processo produtivo de Zimar
Materiais: Capacetes, peruca de carnaval, panelas, paletas de ventilador, escovas de dente, pratos de alumínio, enfeites de árvores de Natal, garrafa PET, fibra de coco, etc.
1ª etapa: Acontece a coleta de materiais descartados que serão reutilizados pelo artesão.
2ª etapa: Inicialmente, ocorre a queima do capacete ou panela no fogão, deixando que as chamas moldem o plástico e criem furos e texturas. Depois, com um pano, dá vida à careta ao moldar deformações nas suas feições, modificando assim a textura de lisa para rugosa (tipo escamas). Também utiliza o isopor de isolamento dos capacetes para algumas caretas.
3ª etapa: Em seguida, continua com a etapa de separação entre o “crânio” e a mandíbula inferior. Assim, o capacete é cortado com uma serra. Zimar destaca uma forma de meia-lua, que se tornará a mandíbula, sendo esta articulada por um mecanismo de pinos e elásticos. Em seguida, marca o recorte de um zigue-zague com um ferro pontiagudo e inicia o corte dos dentes, na parte inferior do crânio e na parte superior da mandíbula. Então, raspa a tinta preta do capacete, para que os dentes fiquem brancos. Neste ponto, monta o sistema de articulação do queixo, com eixos metálicos, furando as peças plásticas e criando a estrutura articulada com elásticos. Depois, vai “cariar” os dentes, deixá-los podres, com nova inserção do plástico no fogão.
4ª etapa: A próxima etapa é escolher as orelhas. Pode fazê-las de tecido, com paletas de ventiladores, recortes de garrafa PET ou pastas de plástico. Queima a base de cada uma no fogão para estas se adaptarem na superficie da “cabeça”, anteriormente feita. Ele, então, perfura ambas as peças e as fixa com arame. Em seguida, escolhe o nariz, utilizando um pedaço da parte plástica de uma vassoura velha e inicia o mesmo processo de modelagem a fogo e a fixação com arame.
5ª etapa: Inicia-se, a etapa de acabamento, com cola branca e pó de serragem. Primeiramente, raspa toda a careta com uma faca para criar aderência no plástico.
Logo, passa a mistura de cola e serragem, cobrindo as amarrações de arame, os pinos da articulação e criando uma textura homogênea sem cobrir, contudo, as texturas criadas pelo fogo, desejadas pelo artesão. Desta forma, o artesão também vai criando relevos na face, na região da sobrancelha, rugas na testa e alongamento do queixo. Neste momento, aproveita a massa com cola e insere pêlos no rosto – sobrancelhas, cílios, barba ou cavanhaque, bigode – com vários materiais, como fibra de coco, ráfias sintéticas de peruca de carnaval, arames, e quaisquer outros materiais que estejam disponíveis para o artesão.
6ª etapa: Depois, inicia-se a pintura, em toda a superfície da careta, com a cor do ser representado, destacando o lábio em vermelho e as olheiras bem marcadas.
7ª etapa: A última fase do trabalho consiste em prender um chapéu de palha sem as abas na parte traseira, para que se possa vestir a careta na cabeça. O chapéu de palha é recortado, para que este sirva como parte traseira da careta. Após a fixação, com furos e arame, o cabelo é costurado, com linha e agulha. Esta cabeleira pode ser também de palha de coco, de perucas carnavalescas disponíveis no mercado, de cores variadas.
Processo de Nico
Materiais: Madeira de Paparaúba, considerado o melhor material, por ser macio.
Seu processo criativo é feito através de seu estilo pessoal, em que ele comenta não copiar ninguém, apenas vai cortando com formão/goifa e raspando até surgir a forma desejada. Após o entalhe, o artesão fixa o chapéu de palha na madeira, com pregos. Depois, coloca a crina, com ráfia metálica e faz a pintura do queixo.
Caretas de cazumbá.
Raquel Noronha; Andréa Katiane Costa; Gisele Saraiva; Márcio Guimarães; Raiama Portela
Aprendiendo con los materiales: encuentro de diseñadoras y artesanos por medio de correspondências